Lobo Antunes domina tanto a escrita, a maneira adequada de combinar as palavras que faz um grande jogo de palavras em Os Cus de Judas. Ele utiliza as palavras que não fazem parte do mesmo campo semântico mas alcança um sentido completo na construção por ele criada. É impressionante!
Somado a isso, o principal método linguístico interessantemente utilizado pelo autor na obra supracitada é a comparação, marcada predominantemente pela conjunção "como".
Vejam-se os exemplos:
“...
sílabas de algodão que se dissolvem nos
ouvidos à maneira de fios de rebuçado na concha na concha da língua.”
“...
pinguins trôpegos de joanetes de contínuo, catatuas de cabeça à banda como
apreciadores de quadros; no tanque dos
hipopótamos inchava a lenta tranquilidade dos gordos...”
“...
hálito cúmplice...”
“...
tranquilizadora tonalidade da bronquite conjugal.”
“Senhoras
idosas vestidas de azul, com tabuleiros de bolos na barriga, ofereciam
travesseiros mais poeirentos do que as suas bochechas folhadas...”
Semelhante à escritura de Lobo Antunes é a de Clarice Lispector – “Ruído de Passos” in:
A Via Crucis
do Corpo.
Vejam-se os fragmentos:
“Essa
senhora tinha a vertigem de viver.”
“Pois
foi com dona Cândida Raposo que o desejo de prazer não passava.”
“Mudos
fogos de artifícios.”