Invasão

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Submeter e conquistar!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

BRINCANDO COM AS PALAVRAS

Lobo Antunes domina tanto a escrita, a maneira adequada de combinar as palavras que faz um grande jogo de palavras em Os Cus de Judas. Ele utiliza as palavras que não fazem parte do mesmo campo semântico mas alcança um sentido completo na construção por ele criada. É impressionante!

Somado a isso, o principal método linguístico interessantemente utilizado pelo autor na obra supracitada é a comparação, marcada predominantemente pela conjunção "como".

Vejam-se os exemplos:


“... sílabas de algodão que se dissolvem  nos ouvidos à maneira de fios de rebuçado na concha na concha da língua.”

“... pinguins trôpegos de joanetes de contínuo, catatuas de cabeça à banda como apreciadores de quadros; no tanque  dos hipopótamos inchava a lenta tranquilidade dos gordos...”

“... hálito cúmplice...”

“... tranquilizadora tonalidade da bronquite conjugal.”


“Senhoras idosas vestidas de azul, com tabuleiros de bolos na barriga, ofereciam travesseiros mais poeirentos do que as suas bochechas folhadas...”


Semelhante à escritura de Lobo Antunes é a de Clarice Lispector – “Ruído de Passos” in: A Via Crucis do Corpo.

Vejam-se os fragmentos:


“Essa senhora tinha a vertigem de viver.”

“Pois foi com dona Cândida Raposo que o desejo de prazer não passava.” 


“Mudos fogos de artifícios.”

A ESCRITA NA VIDA DE LOBO ANTUNES


AUTOR DO LIVRO

António Lobo Antunes nasceu a 1 de setembro de 1942 em Lisboa. Romancista. Proveniente de uma família portuguesa burguesa. Licenciado em Medicina com especialização em Psiquiatria. Exerceu a profissão no Hospital Miguel Bombarda em Lisboa, dedicando-se desde 1985 exclusivamente à escrita. Serviu como tenente e médico do Exército Português em Angola nos últimos anos da Guerra Colonial naquele país, o que marcou fortemente seus três primeiros romances.

RELATO DA TRAGÉDIA COLONIAL

Os Cus de Judas, lançado em 1979, é "o primeiro grande romance sobre a Guerra da Independência de Angola." (Le Martin). Texto denso e inovador, com uma narrativa não linear e fragmentada que relata as inquietações existenciais de seu narrador-protagonista em meio à sangrenta guerra.